2 de julho de 2012

Eu, um missionário? Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado

Por vezes, as autobiografias nada mais são do que uma forma de autoelogio, fruto de um pensamento arrogante acerca da importância de sua própria existência. Trata-se do momento único da vida de uma pessoa, na qual ela dará sua versão dos fatos (por vezes de apenas alguns fatos) e comprovará seu lugar neste mundo estranho e cheio de anônimos buscando seu lugar.
Quando comecei a ler “Eu, um missionário? Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado” pude perceber que Tonica Van Der Meer não iria cair nesse erro. Afinal, é um livro em que narra sua própria vida, mas esta está em segundo plano. Pode-se dizer que a autora abdica-se do trono reservado aos autobiógrafos para conceder a devida importância àqueles que lhe ajudaram em sua longa caminhada.
A forma como o livro é dividido reflete essa escolha. Capítulos como “Jovens rusgados”, “Ministério estudantil em Luanda”, “Ministério estudantil em Lubango”, “Mutilados, mas não destruídos” comprovam que a autora abandona uma narrativa personalíssima para nos brindar com histórias de pessoas comuns, que não desistiram de seus ministérios e dessa dádiva chamada vida, apesar das enormes adversidades.
Outros capítulos são verdadeiras homenagens a certos ministérios, fazendo um levantamento histórico dos mesmos. Tonica não cai no erro de realizar uma narrativa distante, como em um livro técnico de graduação, mas como uma devota ativa de quase todos eles, como ABUB, ABEMO, ABP, AEA, AFTB, IFES, CEM. São siglas que a autora passa com maestria, pois contribui para a edificação e crescimento da maioria.
Um interessante ponto a ser percebido no texto é a constante citação de nomes: dos secretários de grandes ministérios até membros de EBIs. Sua memória não é apenas impressionante, mas um exemplo. É comum não lembrarmos os nomes dos membros de um grupo de estudo ou de nossa igreja. Tonica, por outro lado, lembra-se das filhas dos amigos, de suas mães e esposas. E essa é a principal demonstração do grande amor que ela tem por todos: nunca se esquecer e sempre dar valor a cada um.
“Eu, um missionário?” é tudo, menos uma autobiografia convencional. A autora abre mão de sua própria vida, de uma escrita linear e cronológica: por vezes o livro retorna anos, fica páginas sem falar da autora e muda completamente de foco. Mas essa afirmação não é uma crítica, é um elogio, pois Tonica é uma pessoa rara, que ama seu ministério e amigos a ponto de abrir mão de si mesma...até mesmo em sua autobiografia.

Trecho da Obra: “Ministério nos hospitais”--> “ Nas primeiras semanas o grupo era tão grande que causou certo rebuliço. Visitamos o maior hospital do país, chamado Josina Maciel, além do Centro de Medicina Física. Alguns da equipe foram imprudentes, dizendo aos pacientes que jogassem fora os terços e imagens. E, depois de um mês, desapareceram. Ficamos surpresos e fomos procurá-los:
_ O que aconteceu?
_ Ah! Já evangelizamos o hospital!
Acho que nosso curso não foi bom... Eles ainda pensavam que evangelizar significava falar do evangelho uma vez e exigir mudança imediata de vida.”

8 de fevereiro de 2012

Cansei de Crente


  • Estou cansado de crente moldado a caixinha de promessas.
TODA a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça. [2 Timóteo 3:16]

  • Estou cansado de crente “o melhor de Deus ainda está por vir”.
O melhor de Deus já veio!Quer algo melhor que a salvação em Jesus Cristo?
  • Estou cansado de crente “meus celeiros se encherão”.
Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. [Filipenses 4:12]
  • Estou cansado de crente achando que o que o pastor diz é lei.
E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. [Atos 17:10-11]
  • Estou cansado de crente que desrespeita outros cristãos.
“Se a verdade é o que pregamos, por que erramos não sendo um?” Oficina G3
  • Estou cansado de crente cheio de clichê gospel, mas sem compaixão. Pessoas com mentes cauterizadas.
“A sua vitória vai chegar, varoa!” / Mentes Cauterizadas - Diego Venâncio
  • Estou cansado de crente, estou cansado de mim.
"Cansei de ser meia boca, eu quero transformar a mim. Ai meu Deus, me dá tua força." Cansei - Carol Gualberto

8 de novembro de 2011

A dor e a cruz


A dor é um desafio para o cristão. Como é difícil entender que Deus está no comando da grande obra de arte que se chama vida quando se chora. De fato, o tempo passou, as coisas mudaram, as pessoas se foram; sentimos a falta de um sorriso, o vazio de um abraço, um “boa noite” sem resposta; a tristeza de não ter dito que amava enquanto ainda havia tempo. Ficam as lagrimas e a saudade. Uma dor interior que se externa. Mas a dor, além de um desafio, é uma grande resposta para o cristão, pois a grande obra de amor se revelou justamente em uma cruz. Cristo não destruiu a dor, não parou de senti-la. Entretanto, mostrou que até ela está em seu propósito.
Deus, ensina-nos que mesmo em meio a dor o Senhor revela o seu esplendor.

Por Lucas Nunes

25 de outubro de 2011

Por que eu não deveria mais aguentar ver aquele mendigo perto da minha casa?


O evangelho tem uma preocupação social. Ela é muito maior do que enriquecer pastores, muito maior do que pedir bênçãos individualistas (“Deus, eu quero um carro.”), muito maior do que exigir bênçãos (“Deus, eu quero um carro para que o nome do Senhor seja louvado! Afinal de contas, meu vizinho tem um e nem crente é!”); muito maior do que um investimento seguro em uma poupança super rentável (“Deus, estou fazendo jejum todo domingo para você me dar um carro! Mas vou fazer um jejum das 6hs as 18hs, por que quero um carro importado”).

Não, o cristianismo tem preocupações muito maiores do que essas. Muito mais do que achar que Deus vai dar mais, devemos observar a realidade da sociedade injusta em que vivemos e a consciência da responsabilidade de atuarmos com amor nela. Mas como?

“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17)

Fazer em nome é fazer como se possuísse um mandato. Se o autor da bíblia fosse o mesmo que o autor do Código Civil brasileiro, ele teria dito algo assim: “Você recebeu de Jesus poderes para praticar atos como se fosse Ele! A procuração que você recebeu é a própria Bíblia! Mas não extrapole os poderes que lhe foram concedidos, nem deixe de usá-los.” Então, tudo o que fizer, devo fazer como se fosse Jesus que estivesse fazendo... todavia, se não o conheço, ou simplesmente repito frases bonitas de pregações, essa afirmação fica meio vaga.

As vezes é meio difícil materializar esse amor. Essa forma de agir de Cristo, um amor do criador e de conservação. Como ele reagiria vendo um homem deitado na esquina, com fome? Bem, poderia tanto cuspir no barro e fazer um bolo de fubá ou poderia simplesmente ir a um menino e pedir uns peixes. E eu, como devo reagir?

É possível conhecer uma das essências de Deus: ele é caridade – ou, em algumas bíblias, amor (1 Jo 4: 7 -21). Se devemos praticar atos em nome dEle, devemos agir de acordo com que Ele é, ou seja, amor, se não estaríamos contrariando o mandato que eles nos deu. Isso é lógico: se eu tenho uma procuração de um cruzeirense, irei comprar camisas do galo com os poderes que me foram dados? Não faz sentido, pois contraria a essência da pessoa. Se você não for capaz de amar, não conhece a Deus e não o representa nessa terra.

O amor-caridade é um dos frutos do espírito (Gl 5.22-23) e uma evidência do novo nascimento (1 Jo 3:10). E é algo que temos a responsabilidade de desenvolver. De fato, João nos exorta amar uns aos outros, buscando o bem estar dos demais. Não se trata de um amor platônico ou de facebook (onde todo mundo ama todo mundo, mas ninguém ama ninguém), mas um amor capaz de se doar, de se entregar, de se rebaixar para o bem do próximo. Não é um simples sentimento de boa-vontade, mas uma decisão dispositiva e prática.

Um amor desse tipo, um amor de um criador, conseguiria ver alguém deitado no meio da rua, mendigando? Conseguiria ver políticos comprando votos de pessoas pobres de forma direta ou indireta? Conseguiria ver alunos em escolas públicas que apenas preenchem os horários, sem elevar o conhecimento teórico dos mesmos? Conseguiria? Se até sua mãe – com todo respeito – ficaria revoltada se algo assim estivesse ocorrendo com você, imagine nosso Deus.

Pensar em um amor desses parece meio platônico. Entretanto, o platonismo não pode ser desculpa para que o amor esteja agarrado apenas no adesivo no fundo de um carro... Essa é a verdadeira responsabilidade social do cristão: a efetiva demonstração do amor de Deus através de nossas vidas para com as pessoas dessa terra. Devemos entender o papel do cristão em nosso mundo, fazer com que esse amor que tanto temos dito faça sentido.

27 de setembro de 2011

A Contradição da Ceia - Uma morte feliz


Momentos antes de morte. Sofrimento era iminente, muitos e muitos açoites, cuspes no rosto, coroa de espinhos e, o auge, a cruz. Era esperado um clima pesado de muita tensão e aflição. Mas não é isso que encontramos na descrição de um dos últimos momentos de Jesus com seus discípulos, antes de iniciar-se a via dolorosa.

Do que se trata a épica cena da última ceia? Amigos sentados compartilhando uma refeição, conversando e vivendo em comunhão. E na companhia daquele que iria lhe negar e daquele que iria lhe trair. Seria tudo isso uma contradição?

Dois elementos usados por Jesus são comumente destacados em todas as igrejas, o pão e o vinho. Porém existe um terceiro elemento que fica meio esquecido, mesmo tendo grande importância. A mesa é um elemento essencial na ceia. É à mesa que os amigos se encontram, é à mesa que a refeição é posta, é à mesa que a comunhão acontece.

Memoriais de morte inequivocamente são tristes. Por que Jesus faria com que o cerimonial de recordação da sua morte fosse um momento de alegria como esse? Creio que Jesus teve um foco diferenciado ao instituir esse momento. Como a ceia foi feita, me faz pensar que Jesus tinha sim como foco a recordação da sua morte (I Coríntios 11:26), mas não parou por aí. Ele queria que lembrássemos ainda mais o que foi conseguido através dela: a redenção, a nova aliança!

Ao recordar que já não há condenação sobre si e que foi retirado da morte eterna, que tipo de sentimento se aflora? Alegria, agradecimento, satisfação e amor. É isso que Jesus está buscando em nós a cada vez que participamos da ceia, que estejamos juntos e da mesma maneira que ele se compartilhou, devemos compartilhar o que no salvou e o que essa salvação nos trás. E mais que isso, acho que não é extrapolação se pensamos que quando Ele disse "fazei isso em memória de mim", não estava se referindo apenas ao momento da ceia, mas a cada momento que nos reunimos numa mesa, nos reunimos em comunhão e partimos o pão que foi agradecido. Ele quer fazer parte das nossas relações, façamos-as em memória dEle.

"Fazei isto em memória de mim." Jesus O Cristo